Rox Rezende faz a primeira individual no Rio de Janeiro com suas esculturas de parede
Artista paulistano, que já expôs no Brasil e no exterior, faz do trabalho pesado com o ferro obras de extrema leveza. Por Solange Noronha.
No dia 28/3/11, às 19h, a Caixa Cultural abre para convidados e imprensa a primeira exposição individual de Rogério Miranda Rezende no Rio de Janeiro, “Rox Rezende — A forma forjada”. Do dia 29 até 1º de maio, a mostra estará aberta ao público das 10h às 22h, de terça a sábado, e das 10h às 21h, aos domingos, na Galeria 1 do espaço cultural. São 26 peças, que parecem quadros feitos em metal — ou esculturas para parede, como ele gosta de definir.
Portador de deficiência auditiva e campeão de surfe quando jovem, Rox encontrou na arte sua forma de expressão e, no ferro, o elemento perfeito para extravasar o vigor físico de esportista. Quando trabalha em seu ateliê — na verdade, uma verdadeira oficina — ele conta que prefere desligar seu aparelho de audição: “Mergulho no silêncio absoluto e ouço os planetas”, explica. “Meu trabalho surge de um olhar silencioso.”
Figurativas ou abstratas, as formas nascem no desenho em papel, para em seguida, nas palavras da curadora Denise Mattar, traduzirem-se “em linhas fluidas, teias delicadas feitas de fios de metal, domados através de processo árduo, que inclui fogo, alicates, cortadores e martelos”. Denise diz ainda que o artista recolhe fragmentos de sucata e os distribui em estruturas que ela define como “constelacionais”: “Rox cria mundos suspensos como teias de aranha e se entrega ao fascínio alquímico de transformar os materiais que manipula. Manejando sutilmente os processos de decomposição, corrosão e oxidação do metal, ele enfatiza a beleza que nasce do tempo.”
Dos móveis à “ferronnerie”
O paulistano Rox Rezende, que já expôs em várias cidades do Brasil e no exterior, trabalhou com mobiliário durante anos e, desde 2000, dedica-se à “ferronnerie”, arte que tem sua história muito ligada à arquitetura, especialmente no trabalho de dois grandes mestres: o catalão Gaudí e o francês Guimard. Suas composições se expandem em amplas áreas vazadas, criando, geralmente, estruturas cósmicas, mas também, em algumas obras, ganhando forma de troncos, raízes e paisagens.
Em texto para o folder da exposição, o crítico Enrico Mascheloni escreve: “O ferro é para Rogério um material poético e um meio de coerência estilística, mas mede também a dureza do mundo. A reconhecível matéria da sua poesia torna-se forma depois de haver sublimado a aspereza da vida. Está nisso a sua força, aquela que permite à dura matéria da poesia tornar-se matéria de sonho.”
Denise Mattar complementa: “Os trabalhos de Rox Rezende são desenhos no espaço, e a transparência é o elemento essencial que os torna visíveis. Seus desenhos em três dimensões mostram universos ritmicamente diáfanos, uma vontade intuitiva de compreender a natureza e paisagens construídas à maneira de gravuras japonesas. Seu ponto de partida é sempre a linha, que cria uma estrutura de sustentação para elementos no espaço. Assim como cria sutilezas com o duro metal, ele transmuta sua surdez numa ferramenta de trabalho. Longe de estridências ou harmonias sonoras, ele ‘ouve os planetas’ e constrói seus mundos em transparências estruturais.”
Pelas fotos, dá para se ter uma ideia da leveza que Rox consegue extrair da pesada matéria prima que escolheu para se expressar. Para entender mais profundamente este universo forjado a fogo, só mesmo vendo de perto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário