Após uma sequência de imagens do agreste, o triângulo passou a marcar o ritmo do baião e começou a ecoar a narrativa: “Só voltei pro sertão 16 anos depois de minha ribada...”. A plateia enlouquecida não deixava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos últimos dias de seu mandato, se concentrar para ouvir a história de seu ídolo e xará - Luiz Gonzaga, o rei do baião.
A imagem e o som vinham do vídeo a que Lula assistia no Recife, em comemoração do lançamento oficial, em dezembro passado, do projeto do Cais do Sertão, um centro cultural dedicado a Gonzaga. Além de homenagear um dos autores de “Asa branca”, o espaço terá como pano de fundo a temática do sertão brasileiro.
“O sertão não está relacionado só com Pernambuco ou com o Nordeste: ele se estende por grande parte do país. O sertão é Guimarães Rosa, por exemplo”, observa Marcelo Ferraz, que, junto com seu sócio no escritório Brasil Arquitetura, Francisco Fanucci, assina o projeto arquitetônico.
O centro cultural ocupará uma gleba na zona portuária do Recife Antigo e ambiciona ser uma peça importante na revitalização da região.
O desenho propõe um diálogo franco com o único imóvel tombado do entorno, a torre Malakoff. “Inicialmente, a ideia era ocupar um galpão que existe no porto e construir outro volume ao lado. Estamos fazendo algo parecido: no espaço que estava vazio se erguerá um edifício usando alguns elementos do antigo, que será demolido para dar lugar a um bloco novo”, conta Fanucci.
A decisão, que pode parecer um contrassenso, cria um respiro na frente da torre ao abrir um grande vão no nível do pedestre. Assim, o projeto estabelece uma relação direta com o bem tombado: enquanto o prédio antigo (hoje cercado por muro) é valorizado, o novo, com seu gesto, conecta-se à história.
A decisão, que pode parecer um contrassenso, cria um respiro na frente da torre ao abrir um grande vão no nível do pedestre. Assim, o projeto estabelece uma relação direta com o bem tombado: enquanto o prédio antigo (hoje cercado por muro) é valorizado, o novo, com seu gesto, conecta-se à história.
A entrada do centro cultural fica do lado oposto, mais próximo da área de desembarque de navios de passageiros. Os arquitetos criaram uma praça de acesso que evoca o juazeiro, árvore do sertão presente no largo que era local de encontro de sanfoneiros em Exu, cidade natal de Gonzaga.
A abertura na laje de concreto permitirá que o juazeiro cresça. “Quando o sol bater ali, o piso da praça de acesso ficará marcado com a galhada”, antevê Ferraz.
O projeto arquitetônico foi concebido juntamento com a curadoria, realizada por Isa Grinspum Ferraz, Helena Tassara e Marcelo Macca. Depois de algumas peças históricas de Gonzaga, o visitante vai “mergulhar” no sertão ao entrar no “útero”, um espaço ovalado de aço cortén com projeções em toda a volta.
No térreo, o roteiro é indicado pelo rio São Francisco - reverberando a ideia de Lina Bo Bardi no Sesc Pompeia - e conduz o frequentador a uma série de experiências balizadas por temas como “ocupar o sertão”, “viver no sertão” e “trabalhar no sertão”.
Além de outras atrações, o percurso termina no mezanino, onde os visitantes poderão gravar em estúdio versões de músicas de Gonzaga. O edifício possui ainda biblioteca e discoteca multimídia, espaço para exposições temporárias, auditório com 260 lugares, oficinas, salas de múltiplo uso e restaurante na cobertura.
Um dos pontos altos do projeto de arquitetura é o fechamento do prédio novo com elementos vazados de concreto, de 1 x 1 metro, desenhados pela equipe. Além de sombrear e criar galerias internas interessantes, a proposta caracteriza o centro cultural usando a memória arquitetônica do modernismo brasileiro. Ali, é Luiz Nunes - autor da caixa-d’água de Olinda - quem encontra Luiz Gonzaga.
A abertura na laje de concreto permitirá que o juazeiro cresça. “Quando o sol bater ali, o piso da praça de acesso ficará marcado com a galhada”, antevê Ferraz.
O projeto arquitetônico foi concebido juntamento com a curadoria, realizada por Isa Grinspum Ferraz, Helena Tassara e Marcelo Macca. Depois de algumas peças históricas de Gonzaga, o visitante vai “mergulhar” no sertão ao entrar no “útero”, um espaço ovalado de aço cortén com projeções em toda a volta.
No térreo, o roteiro é indicado pelo rio São Francisco - reverberando a ideia de Lina Bo Bardi no Sesc Pompeia - e conduz o frequentador a uma série de experiências balizadas por temas como “ocupar o sertão”, “viver no sertão” e “trabalhar no sertão”.
Além de outras atrações, o percurso termina no mezanino, onde os visitantes poderão gravar em estúdio versões de músicas de Gonzaga. O edifício possui ainda biblioteca e discoteca multimídia, espaço para exposições temporárias, auditório com 260 lugares, oficinas, salas de múltiplo uso e restaurante na cobertura.
Um dos pontos altos do projeto de arquitetura é o fechamento do prédio novo com elementos vazados de concreto, de 1 x 1 metro, desenhados pela equipe. Além de sombrear e criar galerias internas interessantes, a proposta caracteriza o centro cultural usando a memória arquitetônica do modernismo brasileiro. Ali, é Luiz Nunes - autor da caixa-d’água de Olinda - quem encontra Luiz Gonzaga.
Texto de Fernando Serapião
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 372 Fevereiro de 2011
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 372 Fevereiro de 2011
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